17 agosto 2017

Eu sou aquele que não forja o barco

Sânzio de Azevedo

Eu sou aquele que não forja o barco
sem de água pressentir o indício, ao menos.
Longe outros levem de seu reino o marco;
fico nos meus domínios mui pequenos...

Mostrou-me o tempo os dedos multicores
e me tomou as mãos. Desde esse dia,
eu sou aquele que procura as flores
onde somente as encontrar podia.

Sem me forçar, eu sou. Daí, meu canto,
nem tanta vez agreste nem sonoro,
brilhar espadas fulvas quando canto.

e arrebanhar penumbras quando choro.
Eu sou aquele a quem lhe basta o sesmo
do exíguo território de si mesmo.

Fonte: Horta, A. B. 2016. Do que é feito o poeta. Brasília, Thesaurus. Poema publicado em livro em 1999.

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