06 agosto 2017

Atal vej’eu aqui ama chamada

João Soares Coelho

Atal vej’eu aqui ama chamada
que, dê-lo dia em que eu naci,
nunca tam desguisada cousa vi,
se por ũa d’estas duas nom é:
por aver nom’assi, per bõa fé,
ou se lho dizem porque é amada

(ou por fremosa, ou por bem talhada).
Se por aquest’ama dev’a seer,
é o ela, podede-o creer,
ou se o é pola eu muit’amar;
ca bem lhe quer’e posso bem jurar:
poi-la eu vi, nunca vi tam amada!

E nunca vi cousa tam desguisada:
de chamar home ama tal molher,
tam pastorinha, se lho nom disser’
por tod’esto que eu sei que lh’avem:
porque a vej’a todos querer bem,
ou porque do mund’é a mais amada!

É o de [modo] como vus disser’
que, pero me Deus bem fazer quiser’,
sem ela nom me pode fazer nada.

Fonte: Vasconcelos, C. M. 2004 [1904]. Glosas marginais ao cancioneiro medieval português de Carolina Michaëlis de Vasconcelos. Coimbra, Acta Universitatis Conimbrigensis. Cantiga de amor datada de meados do século 13.

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