30 maio 2017

Bomba

Fernando Echevarría

1.
Formosa mãe. Luz ou morte.
Desintegração. Alguma
sombra deseja ser espuma
e ter o vento por sorte.
Agarro-me a ti. Agarro
toda a luz e todo o barro
de mim e to dou. Entrego-
-me à total revolução.
Mãe, rebenta. Irrompo cego
e mordo-te o coração.

2.
Corpo de sombra. Compacto
dentro e massa luminosa
que até rebentar é um facto
e depois é sempre rosa.
Rosa de fogo que arranca
raízes, sexos, à branca
corporação da medida.
E não é nada. É um lábio
que arde, e arde, e arde, e sabe o
que há de morte na vida.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores.

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