30 abril 2016

O camelo

Don Bradshaw

Nenhum capítulo sobre desertos estaria completo sem algumas palavras sobre o ‘navio-do-deserto’ – o camelo – que tem servido lealmente à humanidade como o melhor dos cargueiros, provavelmente por milhares de anos, e assim continua. Primeiramente, penso que uma palavra de cautela sobre a ‘função’ da corcova do camelo, ou corcovas, como pode ser o caso. A história de que a corcova é o lugar onde os camelos armazenam água por longas jornadas ao longo do deserto é apócrifa, mas tem sobrevivido mesmo após evidências mostrando que ela é preenchida por gordura e não por água [...].

Algumas histórias demoram a morrer e esta merece um cálculo muito simples para provar que ela deveria ter sido sepultada há muito tempo. [...] A gordura não é, então, uma reserva de água distinta: ela é simplesmente uma reserva de energia do camelo, como nos demais vertebrados.

Dito isso, vamos ver algumas maneiras pelas quais os camelos conseguem sobreviver em regiões desérticas, tendo em mente, entretanto, que a maioria dos dados publicados provém de animais mantidos em currais e não em liberdade. [...] Os primeiros estudos [...] revelaram que a temperatura corpórea do camelo varia apreciavelmente ao longo do dia, [...] podendo flutuar tanto quanto 6,2°C quando desidratado. Essa ‘heterotermia’ do camelo foi inicialmente interpretada como evidência de uma pobre [capacidade] termorregulatória. Entretanto, tornou-se aparente que, ao permitir que sua temperatura corpórea varie entre 34,5°C e 40,5°C os camelos estavam efetivamente conservando grandes volumes de água que, de outra maneira, seriam necessários para manter a temperatura constante. Um aumento de 6°C em um camelo de 500 kg gera 1,26 x 107 J de calor armazenado no corpo, equivalente à conservação de aproximadamente 6 L de água caso a transpiração tivesse sido utilizada pelo animal para dissipar a mesma quantidade de calor. O camelo irradia facilmente o calor armazenado para o ar frio do deserto durante a noite [...].

Fonte: Bradshaw, D. 2007. Ecofisiologia dos vertebrados. SP, Editora Santos.

28 abril 2016

Lucros e perdas

Cora Coralina

1.
Eu nasci num tempo antigo,
muito velho,
muito velhinho, velhíssimo.

2.
Fui menina de cabelos compridos
trançados, repuxados, amarrados com tiras de pano.
Minha mãe não podia comprar fita.
Tinha vestidos compridos
de babado e barra redobrada
(não fosse eu crescer e o vestido ficar perdido).
Minha bisavó, setenta anos mais velha
do que eu, costurava meus vestidos.
Vestido ‘pregado’.
Sabe lá o que era isso?
A humilhação da menina
botando seios, vestindo
vestido pregado...
Tinha outros: os mandriões,
figurinos da minha bisavó.

3.
Fui menina do tempo antigo.
Comandado pelos velhos:
barbados, bigodudos, dogmáticos –
botavam cerco na mocidade.

Vigilantes fiscalizavam,
louvavam, censuravam.
Censores acatados. Ouvidos.
Conspícuos.
Felizmente, palavra morta.

4.
A gente era tão original
e os velhos não deixavam.
Não davam trégua.
Havia um gabarito estatuído decimal
e certa régua reguladora
de medidas exatas:
a rotina, o bom comportamento,
parecer com velhos,
ter atitudes de ancião.

5.
Fui moça desse tempo.
Tive meus muitos censores
intra e extralar.
Botaram-me o cerco.
Juntavam-se, revelavam-se
incansáveis. Boa gente.
Queriam me salvar.

6.
Revendo o passado,
balanceando a vida...
No acervo perdido,
no tanto do ganhado
está escriturado:
 “– Perdas e danos, meus acertos.
– Lucros, meus erros”.
Daí a falta de sinceridade nos meus versos.

Fonte: Coralina, C. 2004. Melhores poemas, 2ª edição. SP, Global. Poema publicado em livro em 1983.

26 abril 2016

Voz de um deus

Dante Milano

Suave montanha,
Se eu quisesse te sopraria para longe.

Ruge, mar, em teu cárcere,
Pela minha palavra subjugado.

Frágeis edifícios,
Eu vos faria como a palácios de nuvens
Ruir sem rumor.

Meu pensamento distancia o mundo
E sopra no ar o pó da realidade
Parida como fruto da violência
Com a força que tem a dor.

Mas para que destruir a aparência?
Para onde varrer o pó da terra?

Se não fosse a poeira das palavras
Quem adivinharia um pensamento?

Só restaria o sonho entre os escombros.
Só ficaria um círculo e eu no meio,
Cheio da própria glória, imensa solidão

Fonte (versos 12-15): Cunha, C. 1976. Gramática do português contemporâneo, 6ª edição. BH, Editora Bernardo Álvares. Poema publicado em livro em 1948.

24 abril 2016

Golpe vs. revolução

Aurélio Buarque de Holanda Ferreira

golpe. [Do lat. vulg. colupus < lat. colophus (< gr. kólaphos), ‘bofetada’.] S.m. [...] 5. Ação súbita e inesperada [...]. 10. Manobra desonesta, com o fim de enganar, prejudicar, roubar outrem [...]. Golpe de Estado. Subversão da ordem constitucional e tomada de poder por indivíduo ou grupo de certo modo ligado à máquina do Estado. [...]

revolução. [Do lat. tard. revolutione.] S.f. [...] 3. Transformação radical e, por via de regra, violenta de uma estrutura política, econômica e social. [...]

Fonte: Ferreira, A. B. H. 2009. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa, 4ª edição. Curitiba, Positivo.

22 abril 2016

Tiradentes esquartejado


Pedro Américo (1843-1905). Tiradentes esquartejado. 1893.

Fonte da foto: Wikipedia.

20 abril 2016

Brise marine

Stéphane Mallarmé

La chair est triste, hélas! et j’ai lu tous les livres.
Fuir! là-bas fuir! Je sens que des oiseaux sont ivres
D’être parmi l’écume inconnue et les cieux!
Rien, ni les vieux jardins reflétés par les yeux
Ne retiendra ce cœur qui dans la mer se trempe
Ô nuits! ni la clarté déserte de ma lampe
Sur le vide papier que la blancheur défend
Et ni la jeune femme allaitant son enfant.
Je partirai! Steamer balançant ta mâture,
Lève l’ancre pour une exotique nature!

Un Ennui, désolé par les cruels espoirs,
Croit encore à l’adieu suprême des mouchoirs !
Et, peut-être, les mâts, invitant les orages
Sont-ils de ceux qu’un vent penche sur les naufrages
Perdus, sans mâts, sans mâts, ni fertiles îlots…
Mais, ô mon cœur, entends le chant des matelots !

Fonte (verso 1): Carpeaux, O. M. 2011. História da literatura ocidental, vol. 4. Brasília, Senado Federal. Poema publicado em 1865. O nome verdadeiro do autor era Étienne Mallarmé.

18 abril 2016

A minha consciência

Euphrase Kezilahabi

A consciência, como uma corda ao pescoço, me constringe
E, como uma cabra, estou atado à humanidade.
A corda é curta e já tracei um círculo.
Toda erva que pude já devorei,
Mas, diante de mim, vejo muita outra
Que não consigo alcançar, a corda, a corda!

Oh! Estou atado como um cão
E, lutando pela liberdade, infelizmente,
Ao prato do céu dei-lhe um pontapé.
Quando toco nele com os lábios,
Resvala para mais longe e não posso mais alcançá-lo.
E aqui, onde estou atado,
Já está sujo e não posso mover-me.

Uma corda invisível não se pode cortar
E agora não quero que seja cortada.
A cabra quando se soltou arruinou os campos,
E o cão mordeu a gente.
Agradeço a quem me atou,
Mas devo dizer com força:
“Aqui onde estou, falta-me a liberdade”.

Fonte: Freire, C. 2004. Babel de poemas: uma antologia multilíngüe. Porto Alegre, L&PM.

16 abril 2016

Jaz no centro da Terra uma caverna

Manuel de Santa Maria Itaparica

4.
Jaz no centro da Terra uma caverna
De áspero, tosco e lúgubre edifício,
Onde nunca do Sol entrou lucerna,
Nem de pequena luz se viu indício.
Ali o horror e a sombra é sempiterna.
Por um pungente e fúnebre artifício,
Cujas fenestras, que tu Monstro inflamas,
Respiradouros são de negras chamas.

5.
Rodeiam este Alcáçar desditoso
Lagos imundos de palustres águas.
Onde um tremor e horror caliginoso
Penas descobre, desentranha mágoas:
Fontes geladas, fumo tenebroso,
Congelam ondas e maquinam fráguas,
Mesclando em um confuso de crueldades   
Chamas a neve, o fogo frialdades.

6.
Ardente serpe de sulfúreas chamas
Os centros gira deste Alvergue umbroso,
São as faíscas hórridas escamas,
E o fumo negro dente venenoso:
As lavaredas das volantes flamas
Asas compõem ao Monstro tenebroso,
Que quanto queima, despedaça e come,
Isso mesmo alimenta, que consome.

7.
Um negro arroio em pálida corrente
Irado ali se torce tão furioso,
Que é no que morde horrífica serpente,
E no que inficiona Áspide horroroso:
Fétido vapor, negro e pestilente
Exala de seu seio tão raivoso,           
Que lá no centro sempre agonizado
De peste e sombras mostra ser formado.

8.
As densas névoas, as opacas sombras
Tanto encapotam a aspereza inculta,
Que em negra tumba, fúnebres alfombras    
Parece a mesma noite se sepulta:
Fantasmas tristes, que tu Érebo assombras,
Terrores causam onde mais avulta
O rouco som de aulidos estridentes,
O triste estrondo do ranger dos dentes.

9.
Angústias, dores, pena e sentimento,
Suspiros, ânsias e penalidades,
Gemidos tristes e cruel tormento,
Furores, raivas, iras e crueldades,
Em um continuado movimento.
Por todo o tempo e todas as idades
Tanto a matéria, que criam, destroçam,
Quanto a matéria, que destroem, remoçam.

Fonte (estrofes 4 e 9): Martins, W. 1977. História da inteligência brasileira, vol. 1. SP, Cultrix & Edusp. O poema é um trecho do Canto II de Eustachidos (cinco cantos), obra publicada por volta de 1769 (a 1ª edição, além de anônima, não traz indicação de local ou data de impressão).

14 abril 2016

Menina de quimono


George Hendrik Breitner (1857-1923). Meisje in witte kimono. 1894.

Fonte da foto: Wikipedia.

13 abril 2016

Causação múltipla

John Losee

É prática comum nos estudos históricos da filosofia da ciência contrastar os pontos de vista de [John Stuart] Mill e de [William] Whewell. Muitas vezes Mill é apresentado como identificando a descoberta científica com a aplicação de um esquema indutivo, enquanto Whewell é apresentado considerando a descoberta científica como a livre invenção de hipóteses.

É fora de dúvida que Mill fez afirmativas imprudentes a favor dos seus métodos indutivos. Estes métodos certamente não são os únicos instrumentos de descoberta na ciência. Mas não obstante os comentários que Mill fez contra Whewell nesta disputa, ele obviamente reconhecia o valor da formação das hipóteses na ciência. É pena que os autores mais recentes tenham superestimado as afirmativas imprudentes de Mill no debate com Whewell.

Numa discussão da causação múltipla, por exemplo, Mill restringiu grandemente o domínio de aplicabilidade dos seus métodos indutivos. Os casos de causação múltipla são aqueles em que mais de uma causa se acha envolvida na produção de um efeito. Mill subdividiu os casos de causação múltipla em duas classes: casos em que as várias causas continuam a produzir os seus próprios efeitos separadamente, e casos em que o efeito resultante é diferente da soma dos efeitos que seriam produzidos separadamente. Mill subdividiu ainda esta última classe em casos onde o efeito resultante é a ‘soma vetorial’ das causas presentes, e os casos em que o efeito resultante difere em espécie dos vários efeitos das causas separadas. [...]

Fonte: Losee, J. 1979 [1972]. Introdução histórica à filosofia da ciência. BH & SP, Itatiaia & Edusp.

12 abril 2016

Nove anos e meio no ar

F. Ponce de León

Nesta terça-feira, 12/4, o Poesia contra a guerra completou nove anos e meio no ar. Ao longo desse período, e até o fim do expediente de ontem, o contador instalado no blogue registrou 290.836 visitas.

Desde o balanço anterior – Cento e treze meses no ar – foram publicados aqui pela primeira vez textos dos seguintes autores: Alfredo Bosi, Arnold J. Bloom, Bernard Dixon, Emanuel Epstein, Florisvaldo Mattos, John Keats, Mendes Leal, Paul Auster, Pero da Ponte e Stoyan Mihaylovski. Além de alguns outros que já haviam sido publicados em meses anteriores.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes pintores: Araceli Gilbert e Konrad Mägi.

10 abril 2016

On first looking into Chapman’s Homer

John Keats

Much have I travell’d in the realms of gold,
   And many goodly states and kingdoms seen;
   Round many western islands have I been
Which bards in fealty to Apollo hold.
Oft of one wide expanse had I been told
   That deep-brow’d Homer ruled as his demesne;
   Yet did I never breathe its pure serene
Till I heard Chapman speak out loud and bold:
Then felt I like some watcher of the skies
   When a new planet swims into his ken;
Or like stout Cortez when with eagle eyes
   He star’d at the Pacific – and all his men
Look’d at each other with a wild surmise –
   Silent, upon a peak in Darien.

Fonte (versos 9-14): Dawkins, R. 2000. Desvendando o arco-íris. SP, Companhia das Letras. Poema publicado em livro em 1817.

08 abril 2016

País em inho

Manuel Alegre

Não é possível suportar tanta água benta
tantos infernos tantos paraísos
tanta alma a salvar-se. Não é possível
tanto salvador vestido de absoluto.
Neste país do pouco. Neste país do muito.

Não é possível suportar tanta sebenta
tanta batina tanto sebo tanta cela.
Até Marx vestiram de sotaina
ó Antero: há um jesuíta um fanático um beato.
Neste país abstracto. Neste país abstracto.

Não é possível suportar tanta ideia cinzenta
tanto bolor de caserna e de convento
lajes lírios lágrimas. E os círios.
Tanto 1º de Novembro e tanto Império.
Neste país tão sério. Neste país tão sério.

Não haverá por aí outra ferramenta?
Não haverá ideias armas que não sejam
bentas? Um grande ponto de interrogação?
Um amor laico? Um revolucionário ateu
nas tintas para o inferno e para o céu?

Não é possível suportar tanta agonia
tanta nódoa de cera tanta mancha de sangue
tanto xaile a cheirar a sacristia.
(Que eu vi lá longe um homem crucificado
por este país fardado. Por este país fardado.)

E já não posso suportar tanta doença
tanta cebola a fazer de flor tanta mezinha
tanta Zita Santa Zita tanto rito
tanto guisado e catecismo. Tantas coisas em inho.
Neste país quietinho ó Pascoais. Neste país quietinho.

É preciso (como diz o Torga) correntes de ar
pois falta ó Cesariny é verdade que falta
por aqui uma grande razão.
(Que não seja só uma palavra.) Falta uma fúria.
Neste país lamúria. Neste país lamúria.

Um pouco mais de brasa. Ou se preferem
(como diria Mário Sá-Carneiro)
Um pouco mais de golpe de asa. Pois falta ó Breton
um amor louco (laico e louco).
Neste país do pouco. Neste país do pouco.

Falta o porquê de António Sérgio. Falta o porquê.
Faltam concelhos realmente municipais.
Que não é possível suportar tanta gordura
tanta tristeza magra tanta rodilha tantos cestos.
Neste país de restos. Neste país de restos.

Não é possível suportar tanto chicharro
tanta espinha na alma tanta côdea
tanta azeitona miudinha tanta malha
tanta mágoa apanhada uma a uma. (Que é tudo
o que se apanha. Neste país tão mudo. Neste país tão mudo.)

Um pouco um pouco de ternura.
(Que não seja só uma canja de galinha.)
Um pouco um pouco de clareza.
(Que não seja só o sol. Que não seja só o sul.)
Neste país azul. Neste país azul.

Que não é possível suportar tanta mentira
tanta gente de esquerda a viver à direita
tanta apagada e vil baixeza tanta reza
tanto cochicho onde é preciso falar alto.
Neste país a salto. Neste país a salto.

Não é possível suportar tanto cotim
tanta manga de alpaca tanta canga
tanta ganga suada tanta lixívia
tanta lezíria tanto corno tanto chouriço.
Neste país castiço. Neste país castiço.

Não é possível tanto macho tanta fêmea
tanta faca e alguidar tanto magala
tanta santa tanta puta tanta infanta
tanta saca tanta faca tanto fraque.
Neste país a saque. Neste país a saque.

Pois falta aqui o verbo ser. E sobra o ter.
Falta a sobra e sobra a falta. Ó proletários da tristeza
falta a ciência mais exacta: a poesia.
E há muito já que um poeta disse: É a Hora.
Neste país de aqui. Neste país de agora.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1981.

06 abril 2016

Elogio ao círculo


Araceli Gilbert (1913-1993). Elogio al circulo. 1978.

Fonte da foto: Archivo Blomberg.

05 abril 2016

A rarefeita elite brasileira

Alfredo Bosi

Não é de admirar que atitudes ideológicas a rigor incompatíveis viessem tecer uma só rede mental: padres eram maçons, os religiosos professavam-se liberais e até um tradutor dos Salmos se fez intérprete da teoria do bom selvagem. A nossa vida espiritual não sentiu os choques violentos que abalavam a Europa, pois não tinham amadurecido aqui os grupos de pressão que lutavam arduamente no Velho Mundo desde as primeiras crises do feudalismo. As opiniões radicalmente opostas de um Voltaire e de um Rousseau, ou de um Byron e de um Chateaubriand, caíam na rarefeita elite brasileira como peças de um mosaico ideal que um pouco de habilidade verbal poderia compor.
[...]

Fonte: Bosi, A. 2013. História concisa da literatura brasileira, 49ª edição. SP, Cultrix.

03 abril 2016

A cabra

Florisvaldo Mattos

Talvez um lírio. Máquina de alvura
sonora ao sopro neutro dos olvidos.
Perco-te. Cabra que és já me tortura
guardar-te, olhos pascendo-me vencidos.

Máquina e jarro. Luar contraditório
sobre lajedo o casco azul polindo,
dominas suave clima em promontório;
cabra: o capim ao sonho preferindo.

Sulca-me perdurando nos ouvidos,
laborado em marfim – luz e presença
de reinos pastoris antes servidos –

teu pelo, residência da ternura,
onde fulguras na manhã suspensa:
flor animal, sonora arquitetura.

Fonte (versos 1-4 e 14): Nejar, C. 2011. História da literatura brasileira. SP, Leya. Poema publicado em livro em 1965.

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