06 outubro 2015

Poesia temporã

Chico Flávio Rodrigues

Tanto tempo faz que não escrevo
que nem penso e nem vivo
e me torno surdo àquela conversa franca
comigo mesmo
enquanto as contas e as obrigações
vão devorando os meus poemas
e a retinopatia covardemente
impedindo
quaisquer possibilidades de prosa

Ler – para os meus olhos de hoje –
está tão difícil quanto encontrar a paz

É preciso pois reunir todas as forças
mesmo esses parcos pensamentos inexatos
e compor um urgente texto que me resgate
do prematuro silêncio
pois ainda
existe a música

Fonte: Kuri et al. 2004. AdVersos. RJ, Atlântica Editora.

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