19 julho 2015

Segundo soneto de Mariana

Alphonsus de Guimaraens Filho

Na casa em que nasci morreu meu pai.
Rua Direita: rua em que brinquei
na infância, e agora tudo nela vai
perdido, é sonho. E nela, no cansaço

do que se foi de mim, eu reterei
acaso mais que seu silêncio, o espaço
exíguo e pobre em que meu ser se esvai?
A sombra em que me perco ou me adelgaço?

Ouço vozes que chamam nos sobrados,
nas igrejas, nas ruas silenciosas,
e pelos meus caminhos dissipados

a vida em cada pedra é um lamento,
em cada sino um grito, e suspirosas
bocas falam de um mundo: apenas vento.

Fonte: Nejar, C. 2011. História da literatura brasileira. SP, Leya. Poema publicado em livro em 1959. ‘Alphonsus de Guimaraens Filho’ é pseudônimo de Afonso Henriques de Guimarães Filho.

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