07 junho 2015

A bordo do Beagle

Richard Keynes

21.
O Beagle ancorou no porto de Valdívia a 8 de janeiro; na manhã seguinte Charles subiu o rio até a calma cidadezinha, cujas casas eram inteiramente construídas com tábuas de alerce. Como Chiloé, a região cobria-se inteiramente de florestas, embora possuísse menos coníferas escuras e, portanto, tivesse a aparência mais clara. Uma espécie de bambu com cerca de seis metros de comprimento fornecia as longas e aguçadas chusas, ou lanças usadas pelos índios araucanos que, mais ao norte, lutavam contra o general Rosas na Argentina. Mas as 26 tribos que viviam em torno de Valdívia eram de reducidos e cristianos subordinados aos residentes espanhóis, e os caciques de várias delas recebiam pensões de 30 dólares ao ano para permanecer quietos. O frade do distrito disse que eles respeitavam a religião católica, mas não gostavam muito de ir à missa e resistiam à cerimônia de casamento – talvez porque a posição mais desejada fosse ser uma das 10 mulheres do cacique e, por turnos, morar com ele durante uma semana. As macieiras haviam se adaptado bem à região, produzindo cidra e um álcool mais forte; lamentavelmente a embriaguez era o principal pecado entre os índios.

A população da cidade era sobretudo espanhola, e na quinzena em que o Beagle passou ali, a alegria na embarcação cresceu muito. Um dia, o prefeito levou um barco cheio de senhoras para visitar o navio; por causa do mau tempo, elas foram obrigadas a passar a noite a bordo. Como compensação, organizou-se um baile, a que compareceu com muito gosto quase toda a tripulação. Charles observou que “todos declararam que as signoritas são encantadoras e, o que é mais surpreendente, elas não se esqueceram de como corar, arte atualmente esquecida em Chiloé”.
[...]

Fonte: Keynes, R. 2004. Aventuras e descobertas de Darwin a bordo do Beagle. RJ, Jorge Zahar.

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