05 maio 2015

No rio Amazonas

Robert Avé-Lallemant

1.
Precisei apenas de poucas horas em Pernambuco para coordenar alguns assuntos relacionados com o prosseguimento de minha viagem, na esperança de que, no fim desta, me demoraria ainda muitos dias lá.

O ‘Oiapoque’, em que voltara de Manaus para Pernambuco, devia partir no dia 31 de maio, às 5 horas da tarde, rumo ao Pará, na sua viagem com escala pelos portos do norte, e preparei-me para embarcar novamente nele.

Isso, porém, não se realizou sem alguma dificuldade. A maré viva dum mês de inverno e o forte vento de leste impeliam com extraordinária violência os vagalhões contra os arrecifes do porto. A espuma branca elevava-se acima do dique rochoso, à altura duma casa, e as ondas mais altas passavam-lhe livremente por cima do que resultaram diversos choques dentro do porto. O ‘Oiapoque’ também sofreu com isso. Uma Alvarenga carregada de carvão afundara, por ter ancorado muito perto do farol. Caso muito mais triste foi o do capitão dum navio fundeado fora do porto, no mar, no chamado Lameirão, que, querendo voltar para bordo, virou seu escaler, ao transpor a barra, e pereceu afogado com dois marinheiros e um passageiro.
[...]

Fonte: Avé-Lallemant, R. 1980 [1859]. No rio Amazonas. BH, Itatiaia & Edusp.

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