30 novembro 2014

A morte de Sócrates


Pierre Peyron (1744-1814). La mort de Socrate. 1787.

Fonte da foto: Wikipedia.

28 novembro 2014

Ecologia, evolução & o valor das pequenas coisas

Felipe A. P. L. Costa

[Apresentação]
Este livro não é propriamente uma introdução à ecologia acadêmica, mas tampouco é um manifesto ambientalista. Embora alguns trechos possam servir como material didático, minha maior preocupação foi reunir artigos que pudessem ser lidos por qualquer cidadão interessado em ciência.

Os 26 capítulos da 2ª edição (seis a mais que a anterior) lidam basicamente com temas e assuntos biológicos, tanto no âmbito de disciplinas básicas (ecologia, biologia evolutiva, etologia etc.) como aplicadas (biologia da conservação, da restauração etc.).

Espero que a leitura seja prazerosa, mas, sobretudo, instigante.

*

A primeira edição foi publicada em fevereiro de 2003. A nova edição reproduz, em 158 páginas, todos os capítulos originais (1-20), acompanhados agora de seis novos capítulos (21-26). Corrigi erros e mal-entendidos presentes na edição anterior e alterei alguns trechos que me pareceram datados ou inadequados para serem reproduzidas do mesmo jeito. Acrescentei ilustrações em dois capítulos (13 e 14) e a tabela que havia em um terceiro (19) foi substituída por um apêndice ilustrado e mais detalhado.

Fonte: Costa, F. A. P. L. 2014. Ecologia, evolução & o valor das pequenas coisas. Viçosa, Edição do Autor. Para entrar em contato com o autor e/ou adquirir exemplares, escreva para o endereço eletrônico meiterer@hotmail.com.

26 novembro 2014

O cisne e o lago

Eduardo Guimaraens

Um cisne de suave e soberba plumagem,
à flor de um lago azul onde a manhã se espelha,
segue surpreso o cisne irreal que o semelha
ao fundo d’água, e feito à sua própria imagem.

Verdes, ao derredor, uma ou outra ramagem
refletidas. E na onda a luz do sol centelha.
Desde a rósea alvorada à véspera vermelha,
sente o cisne a enlevá-lo essa branca miragem.

Pende às vezes o colo esbelto longamente
para o cristal: e beija um fantasma que mente,
até que baixe a noite e as suas penas tisne.

Tremem os caniçais... os astros despontaram...
E fica o cisne só, como as almas que amaram
e para quem o amor foi a sombra de um cisne.

Fonte: Ricieri, F., org. 2008. Antologia da poesia simbolista e decadente brasileira. SP, Ibep. Poema publicado em livro em 1916.

24 novembro 2014

A reação romântica

Alfred North Whitehead

Quando abandonamos a teologia apologética e nos dirigimos para a literatura, observamos, como era de esperar, que a visão científica é em geral simplesmente ignorada. No que respeita à generalidade da literatura, a ciência tem passado despercebida. Até há pouco quase todos os escritores se embebiam na literatura clássica e renascentista. Na maior parte nem a filosofia nem a ciência conseguiam interessá-los; por outro lado, os seus espíritos encontravam-se predispostos para as ignorar.

Há exceções, decerto, e, mesmo confiando-nos à literatura inglesa, essas exceções incluem alguns dos maiores nomes: além disso, a influência indireta da ciência foi considerável.

Encontra-se uma prova disso ao examinar alguns dos grandes poemas da literatura inglesa, cujo nível geral lhes dá um caráter didático. Os poemas que nos interessam neste caso são [Paraíso perdido], de Milton, o Ensaio sobre o homem, de Pope, a Excursão, de Wordsworth, In memoriam, de Tennyson. Milton, embora escrevendo após a Restauração, defende a feição teológica dos primeiros tempos do seu século, livre ainda da influência do materialismo científico. O poema de Pope representa o efeito dos sessenta anos seguintes sobre o pensamento popular, incluindo neles o primeiro período do triunfo do movimento científico. Wordsworth exprime com todo o seu ser uma reação consciente contra a mentalidade do século 18. Essa mentalidade significa nada mais que a aceitação das idéias científicas em todo o seu valor. Wordsworth não era animado por qualquer antagonismo intelectual; movia-o, sim, uma repulsão moral. Sentia que qualquer coisa se havia perdido, e que fora precisamente o mais importante. Tennyson é o expoente máximo das tentativas do decadente movimento romântico, no segundo quartel do século 19, para chegar a um acordo com a ciência.
[...]

Fonte: Deus, J. D., org. 1979. A crítica da ciência, 2ª edição. RJ, Zahar. Texto publicado em livro em 1926.

22 novembro 2014

Morte no interrogatório

Egito Gonçalves

Às três da madrugada eu dormia sem sonhos.
Minha mulher dormia a meu lado. Eu tinha
uma da mãos pousada sobre a sua coxa.

Uma lua de outono brilhava sobre as ruas;
um ar agreste preparava as noites para o inverno.

Às três da madrugada os companheiros
dormiam quase todos. Um deles, porém,
regressava, fatigado, de um trabalho nocturno.

Era a hora dos fogos-fátuos sobre as campas;
a hora em que os exilados buscam o sono em comprimido.

Às três da madrugada sua mulher ainda velava.
Embrulhada num xaile tinha um livro entre as mãos;
insone, acendera a luz havia meia hora.

Na sala o interrogatório atravessava o tempo;
lâmpadas de mil vátios tornavam a vida irrespirável.

Às três da madrugada o coração fraquejou
e os dois comissários ficaram perante um homem morto
e dois cinzeiros com trinta pontas de cigarros.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1963.

20 novembro 2014

Econometria

M. J. C. Surrey

A econometria é a arte de confrontar o raciocínio a priori do economista teórico com a evidência estatística disponível. Os tipos de resultados que podem ser obtidos, e os tipos de problemas que podem surgir, podem ser ilustrados muito facilmente através de um exemplo simples. Keynes sugeriu que o consumo dependeria primordialmente do nível de renda; assim:

                        Ct = f(Yt),                      (1.1)

onde Ct representa o nível de consumo no tempo t e Yt o nível de renda. O primeiro problema que confronta o econometrista é aquele de especificar a forma matemática da função geral (1.1). Suponhamos que esta seja linear:

                        Ct = α + βYt.                    (1.2)

Então, o próximo passo seria o de se encontrar os valores de α e β que descrevem os dados disponíveis sobre o consumo e a renda da melhor maneira possível.
[...]

Fonte: M. J. C. Surrey, M. J. C. 1979 [1974]. Uma introdução à econometria. RJ, Zahar.

18 novembro 2014

O que é o fruto?

Felipe A. P. L. Costa

Para alguns autores, o fruto nada mais é do que o ovário maduro. Via de regra, a maturação do ovário (e de outras estruturas florais) tem início com a chegada do andrófito (grão de pólen) ao estigma. O grão de pólen germina, dando origem a um tubo polínico, por meio do qual duas células espermáticas são levadas até o ginófito (saco embrionário), uma estrutura tipicamente octonucleada. Uma das células espermáticas se funde com a oosfera, dando origem ao zigoto e este ao embrião. A outra se funde com a célula central (binucleada) do ginófito, dando origem ao xenófito (mais conhecido como endosperma), tecido de reserva a ser consumido pelo embrião. Essa dupla fecundação é uma característica exclusiva das angiospermas. Após a fecundação, o ovário se desenvolve em fruto, enquanto o rudimento seminal (comumente chamado de óvulo) se desenvolve em semente, dentro da qual está o embrião. Do mesmo modo como os rudimentos seminais estão dentro de ovários, as sementes estão dentro de frutos.

[Ocorre] que, em certos casos, o próprio ovário é abraçado por outras estruturas florais. O receptáculo (estrutura que sustenta a flor), por exemplo, ou o pedúnculo (estrutura que conecta o receptáculo a um ramo) pode se hipertrofiar, a ponto de sobrepor ou mesmo envolver todo o ovário. Os autores para quem o fruto corresponde apenas ao ovário maduro costumam chamar a esse conjunto de estruturas hipertrofiadas de pseudofruto (‘falso fruto’) ou fruto acessório. Alternativamente, porém, outros autores adotam uma definição mais abrangente, do tipo: fruto é toda e qualquer estrutura do corpo de uma angiosperma que contém sementes. Essa segunda definição deixa de fora apenas uma situação excepcional, que é a dos chamados ‘frutos partenocárpicos’ – i.e., estruturas que resultam do desenvolvimento de um gineceu não fecundado.

Fonte: Costa, F. A. P. L. 2014. Ecologia, evolução & o valor das pequenas coisas, 2ª edição. Viçosa, Edição do Autor.

16 novembro 2014

Termos de comparação

Zulmira Ribeiro Tavares

São lidos por especialistas
um pequeno círculo
ávido.

A avestruz é um bicho-raro.
O poeta uma ávis-trote.

A avestruz engole
tudo: parafusos em princípio.
O poeta não
digere uma
única partícula.
Tudo: fica-lhe atravessado.
no papel, para tanto
estraçalha e regurgita –

ei-la: a Arte!!

Com quantas letras escreve-se “destroço”?
e “pútrido”?
com quantas, “estrutura”?

Para escrevê-las
com quantos dentes mastiga-se?
para romper certas palavras
o que se morde? o que sangra de início,
a língua?
Mas quem morde a língua
é o arrependido,
o que se cala.

Por isso a avestruz
é o bicho cândido.
O poeta, o tão difícil.

Todo o mundo sabe que ela é simples.
Cada enciclopédia a determina.

Ninguém confunde
a localização das plumas
o bico contra o peito: direção na fuga

o parafuso dentro
do estômago.

Vamos devagar com os poetas.
Por que são aves?
Porque regulam o peso de seus braços
e conforme cismam – voam.

Ávis-trotes porque pulam
inesperadamente
e quebram os braços.

Lidos por um grupo ávido.
Por que ávido?
por que de especialistas?

por que lidos?

Porque: –
não engolem
nem recusam

porque atrapalha
o comum espetáculo circense
do parafuso descendo pelo esôfago
o seu engasgo, o seu espasmo.

Porque são
intrusos.
Não se aceitam ávis-trotes
nos circos – Não comem espadas
muito menos fogo.

Porque não se juntam
ao comum dos espectadores
na arquibancada
mansamente digerindo sobras.

Porque não têm país certo
assinalado no mapa
como sói acontecer às avestruzes.

Seu país é:
Nenhures.

Terra de difícil acesso
sujeita tanto
aos roedores
quanto à ação
das irradiações atrozes.

Em Nenhures
os acontecimentos desencadeiam-se fatais
ou, ao contrário, lúdicos.

Por exemplo em Nenhures
as unhas crescem
sozinhas do solo
simples para
beliscarem certas
zonas glúteas

É o cúmulo! – dizem todos –
É impensável!
Num país sujeito a irradiações
e à fatalidade
as unhas crescerem
e para isso!

Por isso os especialistas se interessam
Por isso sabem
São especialistas, por isso
poucos.

A ávis-trote
– nome científico, o vulgo a conhece por poeta –
também
é estudada nas escolas
fora do círculo.

Mais escassas fazem-se as respostas
a curiosidade nas crianças amaina-se
acalma-se, o poema: ovo choco muita vez
pois o poeta é fase histórica
não escapa –

raramente põe-se
como objeto de estudos.
De seu autor, pouco provável que se tenha
uma noção menos confusa.

O povo aclama a avestruz!
as plumas! ah!
a esplêndida
aventura audaz do parafuso!

Fonte: Hollanda, H. B., org. 2001 [1976]. 26 poetas hoje, 4ª edição. RJ, Aeroplano. Poema publicado em livro em 1974.

14 novembro 2014

Decadência


Thomas Couture (1815-1879). Le romains de la décadence. 1847.

Fonte da foto: Wikipedia.

13 novembro 2014

As pedagogias do conhecimento

Louis Not

Desde o século XVIII, pelo menos, duas perspectivas pedagógicas se contrapõem. Numa quer-se ensinar, instruir, formar. Ensina-se uma matéria às crianças, ou seja, situa-se diante de dois objetos: a matéria e a criança; do exterior, subtrai-se o aluno de seu estado de criança; ele é dirigido, modelado e equipado. Esta é a tese antiga: ela continua a ter partidárias, apesar das críticas e variações que sofreu. A antítese se precisa após Rousseau, quando se declara que o aluno traz em si os meios de assegurar seu próprio desenvolvimento, sobretudo intelectual e moral, e que toda ação que intervém do exterior só pode deformá-lo ou entravá-lo.

E porque a História parece justificá-lo, os dois métodos, os antigos e os modernos foram contrapostos, embora uns sejam tão atuais quanto os outros. Por vezes o tradicional é rejeitado em nome do novo, como se tradicional e caduco fossem sinônimos ou como se, com o passar dos anos, o novo não se tornasse tradição. Outras vezes enfim, porque as aparências sugerem e porque Rousseau e os pedagogos nele inspirados põem a ação na origem de todo o conhecimento, são denominados ativos os métodos que eles preconizam; depois, porque as oposições facilitam a classificação, diz-se que nos outros o aluno não é ativo... e denuncia-se, ao mesmo tempo, a multiplicidade das tarefas que eles obrigam os alunos a realizar.
[...]

Fonte: Not, L. 1981. As pedagogias do conhecimento. SP, Difel.

12 novembro 2014

Noventa e sete meses no ar

F. Ponce de León

Nesta quarta-feira, 12/11, o Poesia contra a guerra completa noventa e sete meses no ar. Ao longo desse período, e até o fim do expediente de ontem, o contador instalado no blogue registrou 259.233 visitas.

Desde o balanço anterior – Aniversário de oito anos – foram aqui publicados pela primeira vez textos dos seguintes autores: Aécio Pereira Chagas, Brian Charlesworth, Bruce Springsteen, Bruno Walter, Charles Bunn, Deborah Charlesworth, Gyula Juhász, Henfil, Itálico Marcon, Luis Cernuda, Neil Edwards, Othon Henry Leonardos e Viktor Leinz. Além de alguns outros que já haviam sido publicados em meses anteriores.

Cabe ainda registrar a publicação de imagens de obras dos seguintes pintores: George Whiting Flagg e Washington Allston.

09 novembro 2014

Los fantasmas del deseo

Luis Cernuda

Yo no te conocía, tierra;
con los ojos inertes, la mano aleteante,
lloré todo ciego bajo tu verde sonrisa,
aunque, alentar juvenil, sintiera a veces
un tumulto sediento de postrarse,
como huracán henchido aquí en el pecho;
ignorándote, tierra mía,
ignorando tu alentar, huracán o tumulto,
idénticos en esta melancólica burbuja que yo soy
a quien tu voz de acero inspirara un menudo vivir.

Bien sé ahora que tú eres
quien me dicta esta forma y este ansia;
sé al fin que el mar esbelto,
la enamorada luz, los niños sonrientes,
no son sino tú misma;
que los vivos, los muertos,
el placer y la pena,
la soledad, la amistad,
la miseria, el poderoso estúpido,
el hombre enamorado, el canalla,
son tan dignos de mí como de ellos yo lo soy;
mis brazos, tierra, son ya más anchos, ágiles,
para llevar tu afán que nada satisface.

El amor no tiene esta o aquella forma,
no puede detenerse en criatura alguna;
todas son por igual viles y soñadoras.
Placer que nunca muere
beso que nunca muere,
sólo en ti misma encuentro, tierra mía.
Nimbos de juventud, cabellos rubios o sombríos,
rizosos o lánguidos como una primavera,
sobre cuerpos cobrizos, sobre radiantes cuerpos
que tanto he amado inútilmente,
no es en vosotros donde la vida está, sino en la tierra,
en la tierra que aguarda, aguarda siempre
con sus labios tendidos, con sus brazos abiertos.

Dejadme, dejadme abarcar, ver unos instantes
este mundo divino que ahora es mío,
mío como lo soy yo mismo,
como lo fueron otros cuerpos que estrecharon mis brazos,
como la arena, que al besarla los labios
finge otros labios, dúctiles al deseo,
hasta que el viento lleva sus mentirosos átomos.

Como la arena, tierra,
como la arena misma,
la caricia es mentira, el amor es mentira, la amistad es mentira.
Tú sola quedas con el deseo,
con este deseo que aparenta ser mío y ni siquiera es mío,
sino el deseo de todos,
malvados, inocentes,
enamorados o canallas.

Tierra, tierra y deseo.
Una forma perdida.

Fonte (apenas um verso da penúltima estrofe): Carpeaux, O. M. 2008. História da literatura ocidental, vol. 4. Brasília, Senado Federal. Poema publicado em livro – com a dedicatória ‘A Bernabé Fernández-Canivell’ – em 1935.

07 novembro 2014

Antes da execução


George Whiting Flagg (1816-1897). Lady Jane Grey preparing for execution. 1835.

Fonte da foto: Wikipedia. Outro quadro sobre o mesmo episódio está aqui.

06 novembro 2014

Quando eu era um jovem regente

Bruno Walter

Quando eu era um jovem regente, todos os músicos amavam Mozart e queriam tocar sua música, porém os diretores dos teatros eram contra essa idéia. Não dava bilheteria. Por exemplo, em Riga, lembro-me muito bem que um membro do Conselho, quando descobriu que a bilheteria não estava indo muito bem, disse que nos deveríamos apresentar peças melhores! E então, graças aos esforços de Mahler em Viena, Mozart foi visto por um novo prisma. Sua veracidade dramática foi reconhecida e Mozart virou boa bilheteria... e mais tarde eu continuei com a mesma linha em Munique. Fiquei dez anos em Munique e é claro que servi muito bem à causa de Mozart... Ele se tornou um dos trunfos da Ópera de Munique. E então, mais tarde, eu voltei a Viena uma vez mais e assumi a direção da ópera de Viena de 1935 até a chegada de Hitler. A essa altura, Mozart já se transformara em grande bilheteria. Maior do que Verdi, maior do que Wagner.

Fonte: Solman, J. 1991. Mozartiana: dois séculos de notas, citações e anedotas sobre Wolfgang Amadeus Mozart. RJ, Nova Fronteira.

04 novembro 2014

Identificação de substâncias

Aécio Pereira Chagas

Os químicos e os detetives têm muita coisa em comum. Cada um deles tem diante de si problemas muito semelhantes e que têm até o mesmo nome: identificação. A maneira de resolvê-los também é semelhante, ou seja, os químicos às vezes trabalham como Sherlock Holmes ou Hercule Poirot, procurando pistas e fazendo hipóteses e deduções até encontrar a solução. A diferença é que o detetive lida com pessoas e o químico com substâncias. E assim como o detetive deve conhecer o comportamento das pessoas para resolver o seu problema, o químico também deve conhecer o comportamento das substâncias (suas propriedades, como também se diz) para resolver seu problema. O detetive deseja encontrar uma pessoa: o criminoso, a testemunha, às vezes até a vítima, e também as provas para resolver seu caso. O químico também deseja encontrar a substância, às vezes conhecida, às vezes desconhecida, e também as ‘provas’ para resolver seu caso: as águas da lagoa estão contaminadas com mercúrio? Qual o teor de álcool na gasolina? E o de água no álcool? E no vinho? Aquela chapa de aço enferrujou fácil, qual seu teor de [cromo]? Aquele medicamente tem mesmo a composição mencionada no rótulo? Qual o teor de cobre naquele mineral? Qual o teor de proteína naquela ração? Quanto nitrogênio precisa ser adicionado ao solo para se atingir os teores necessários àquela cultura? Quanto de sódio e potássio há no sangue? Quanto de ácido e de fenol há no vinho? Quanto mentol há nas folhas daquela variedade de hortelã? Estas são questões formuladas aos químicos em todas as partes do mundo e a todo instante. Há ainda outras que não refletem este imediatismo das formuladas acima.
[...]

Fonte: Chagas, A. P. 1992. Como se faz química, 2ª edição. Campinas, Editora da Unicamp.

02 novembro 2014

Orogênese

Viktor Leinz & Othon Henry Leonardos

Conjunto de fenômenos que levam à formação de montanhas. Em geral, a designação se aplica principalmente ao caso de montanhas originadas por diastrofismo (dobramento, falhamento, ou combinação de ambos), conquanto na sua acepção mais ampla inclua também a formação das montanhas de vulcanismo e erosão. As montanhas de dobramentos (Andes, Alpes, Himalaia, etc.) são produzidas principalmente por esforços tangenciais, tanto unilaterais como bilaterais. As montanhas de falhamento originam-se de esforços verticais.

As causa da [orogênese] são discutíveis. A teoria da contração admite que a contração do interior da Terra (perda térmica, cristalização) é capaz de originar pressões tangenciais que atuam na crosta. As teorias magmáticas (empenamento, oscilação, etc.), muito em voga atualmente, admitem como causa primária os movimentos no substrato magmático, seja sob forma de correntes de convecção, seja de marés magmáticas, provocando tumores na crosta sólida. A teoria da migração dos continentes [...] postula que os blocos continentais (siálicos), ao deslizarem, amarrotam geossinclinais, originando cadeias de montanhas. Alguns autores admitem hoje um certo periodicismo da [orogênese], bem como o seu sincronismo. O tempo da sua duração parece ser relativamente curto.

Fonte: Leinz, V. & Leonardos, O. H. 1977. Glossário geológico, 2ª edição.  SP, Nacional & Edusp.

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