04 abril 2014

Elegia a uma rua

Arturo Torres Rioseco

– Por onde foi que a levaram?
– Por aqui, por esta rua.
– A rua está bem mudada.
– A rua é a mesma, não muda.

– Os que a levaram, acaso
Se lembrarão dessa tarde?
– Aqueles que iam com ela
Sumiram-se ao fim da estrada.

– Mil novecentos e treze!
Chovia naquela tarde...
– Vinte anos faz que na rua
Chuva de tempo desaba.

– Dizes que se foram todos
Os que lhe queriam bem?
– Hoje só restam os filhos,
Ora amigos de ninguém.

Mas este é o mesmo sol, e estas
As mesmas cornijas e árvores,
E nestes mesmos telhados
Cantam hoje os mesmos pássaros.

– Sim, tudo é o mesmo, no entanto
Minh’alma estranha o que sente,
A rua vejo que é a mesma,
O ar porém é diferente.

A tarde era um cobre novo
Saturado de laranjas.
Chorava pelas janelas
Aquela dor de quinze anos.

Foi por aqui que a levaram,
Por esta rua passaram.

Fonte: Bandeira, M. 2007. Estrela da vida inteira. RJ, Nova Fronteira.

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