04 janeiro 2014

Como nos comunicamos?

Dan Sperber

Comunicamo-nos. Nós, seres humanos, o fazemos o tempo todo, e na maioria das vezes sem perceber. Falamos, ouvimos, escrevemos, lemos – como você está fazendo agora – ou desenhamos, fazemos mímica, dizemos que sim com a cabeça, apontamos, damos de ombros, e, de alguma maneira, conseguimos que os outros entendam nossos pensamentos. É claro, há momentos em que encaramos a comunicação como algo difícil e até impossível de alcançar. Entretanto, comparados com outros seres vivos, somos incrivelmente bons nisso. Outras espécies, se é que se comunicam, têm um repertório diminuto de sinais que são usados para afirmar repetidas vezes coisas como: “Este é meu território”, “Perigo, corra!” ou “Pronto para o sexo”.

Comunicar-se é a tentativa de fazer com que alguém compartilhe seus pensamentos – bem, pelo menos parte deles. Mas como podemos compartilhar pensamentos? Pensamentos não são coisas que vivem soltas em campo aberto, não podem ser fatiados como bolos ou usados coletivamente como ônibus. São assuntos extremamente particulares. Os pensamentos nascem, vivem e morrem dentro de nossos cérebros. Eles nunca saem realmente de nossas cabeças (apesar de falarmos como se saíssem, mas trata-se de uma metáfora). A única coisa produzida por uma pessoa para que outra a veja ou ouça é o comportamento e os vestígios que ele deixa: movimento, barulho, gravetos quebrados, manchas de tinta etc. Essas coisas não são pensamentos, elas não ‘contêm’ pensamentos (essa é mais uma metáfora), no entanto alguns desses comportamentos ou rastros servem para representar pensamentos.
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Fonte: Brockman, J. & Matson, K., orgs. 1997. As coisas são assim. SP, Companhia das Letras.

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