02 novembro 2013

Lundum de cantigas vagas

Caldas Barbosa

Xarapim eu bem estava
Alegre nest’aleluia,
Mas para fazer-me triste
Veio Amor dar-me na cuia.

Não sabe, meu Xarapim,
O que amor me faz passar,
Anda por dentro de mim
De noite e dia a ralar.

Meu Xarapim, já não posso
Aturar mais tanta arenga,
O meu gênio deu à casca
Metido nesta moenga.

Amor comigo é tirano,
Mostra-me um modo bem cru,
Tem-me mexido as entranhas
Qu’estou todo feito angu.

Se visse o meu coração
Por força havia ter dó,
Porque o Amor o tem posto
Mais mole que quingombó.

Tem nhanhá certo nhonhó,
Não temo que me desbanque,
Porque eu sou calda de açúcar
E ele apenas mel do tanque.

Nhanhá cheia de chulices,
Que tantos quindins afeta,
Queima tanto a quem a adora
Como queima a malagueta.

Xarapim tome o exemplo
Dos casos que vê em mim,
Que se amar há de lembrar-se
Do que diz seu Xarapim.

[Estribilho]

Tenha compaixão
Tenha dó de mim,
Porqu’eu lho mereço
Sou seu Xarapim.

Fonte (exceto estribilho): Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 2. SP, Cultrix & Edusp. Poema publicado em livro em 1826.

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