08 outubro 2013

Por ser o que não sou é que padeço

Jorge Medauar

Por ser o que não sou é que padeço.
Padeço em existir quase alternado
Entre tudo que tenho e não mereço.
E o que mereço, nunca me foi dado.

Assim, o que não digo, reconheço
Ser o que mais por mim foi meditado.
O que revelo é paga – apenas preço
Do que também a mim foi ocultado.

Se esse existir se parte entre dois gumes
Posso ver pela noite vaga-lumes
E dizer que são luzes nos caminhos.

Maldito o que me vê como não sou:
Podendo dar-lhe mel. apenas dou,
Ocultos, entre pétalas, espinhos.

Fonte: Nejar, C. 2011. História da literatura brasileira. SP, Leya.

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