05 julho 2013

Marsyas

Marsyas es el árbol que canta.
(Alfonso Reyes)


Frente ao céu
cresce a árvore escura
de minha insônia.

Não importa o dia:
sua presença é noite
que me esvazia.

Estendo o rosto
e a luz é um pânico
adolescente.

O mais atroz
modo de improvisar-me
o nada, deus.

Se raio me tornasse,
a árvore que habito
me destruiria.

Se eu a queimasse,
nas chamas a árvore
me devoraria.

Pássaros são
as palavras que espera
meu coração;

machado, sonido
que difunde um silêncio
desconhecido;

sombra, a paz
que respiram as folhas
de meu disfarce.

Mesmo que desvie
o olhar para o fundo
claro do rio,

sempre me encontro
com a árvore escura
que trago dentro.

Fonte: Costa, H. 1992. Antologia de poesia hispano-americana atual. Revista USP 13: 186-205. Poema publicado em livro em 1988.

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