19 março 2013

Como o indeterminado nos determina

William Bronk

Assim, somos tão pouco discerníveis
em tanto nada que resulta que a nossa particularidade,
por vezes, nos assombra: o mundo é nosso;
é tão só nosso; outros que se movem aí,
ou parecem mover-se, estão noutro sítio, estão noutro mundo,
no seu mundo; vemos somente de vez em quando
– fragmentados, como se fôssemos nada, ou
instáveis – algumas vezes vemos o que eles vêem,
nenhum mundo que conhecemos. O deles. Estranho. Como se
por uma mutação momentânea de pequenas partículas
de cargas, o cobre se tornasse carbono e senti-se o peso
e valências do carbono num mundo alterado
de inércias e reacções, e se retornasse cobre
num mundo cuproso. Resta-nos maravilhar e
ponderar a nossa particularidade e ponderar o seguinte:
somos duas incógnitas numa só equação, nós
e o nosso mundo, funções um do outro. A visão
é interior e vê-se a si mesma, a audição, o tacto,
são interiores. O que conhecemos do mundo exterior?

Fonte: Santos, A. M. D. S. N. 1988. Até que ponto uma ciência poética? In: Leite, M. C. et al. Pensar a ciência. Lisboa, Gradiva. Poema publicado em livro em 1964.

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