11 dezembro 2012

Destreza manual

John Napier

Os tibetanos têm um aforismo – “Cuidado com os demônios à tua mão esquerda” – que é comum a todas as raças e a todos os credos sob uma ou outra forma. Na maioria dos grupos culturais, a mão esquerda é considerada impura e imprestável. Nos países do Oriente Médio e Norte de África, o ritual das refeições feitas somente com a mão direita é observado rigorosamente nos círculos ortodoxos; procedimento um tanto incômodo, na maioria das vezes, mas, levando tudo em conta, provavelmente higiênico, dado que a mão esquerda é a mais freqüentemente usada para fins de asseio íntimo. Apesar das rigorosas recomendações acerca de lavagens, a mão esquerda deve ser sempre conspurcada, filosoficamente, quando não bacteriologicamente, pelas tarefas excrementícias que é chamada a executar.

Na língua inglesa, as próprias palavras left (esquerda) e right (direita) contêm seu próprio louvor ou detração, conforme o caso. A direita implica correção e decoro, a esquerda, em seu sentido primário, significa fraco e imprestável. Muitas palavras derivadas, como righteous (reto, íntegro) e dextrous (destro, sagaz), gauche (canhestro, inepto) e sinister (sinistro, funesto, malvado) retêm seu significado etimológico original – destreza e bondade versus incompetência e maldade. A política, é claro, constitui caso especial, embora haja quem não admita a distinção. Segundo H. L. Mencken, o uso de esquerda e direita na política teve origem nos lugares onde se sentavam os membros da Assembléia francesa em 1789; os conservados de nobre estirpe tomavam assento à direita do presidente, os membros revolucionários do Terceiro Estado à sua esquerda, e os moderados no centro.
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Fonte: Napier, J. 1983 [1980]. A mão do homem. RJ & Brasília, Zahar & Editora da UnB.

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