13 agosto 2012

Mergulho na escuridão

Robert Kurson

1.
A vida de Bill Nagle mudou no dia em que um pescador sentou-se ao lado dele em um barzinho pé-sujo e lhe falou de um mistério que, segundo ele havia descoberto, jazia no fundo do oceano Atlântico. Contra o que seria ajuizado, aquele pescador prometeu dizer a Nagle como achá-lo. Os homens marcaram um encontro para o dia seguinte, no periclitante píer de madeira que levava ao barco de Nagle, o Seeker, uma embarcação que ele havia construído para ir em busca de possibilidades. Porém, na hora marcada, o pescador não apareceu. Nagle ficou andando de um lado para o outro, tomando cuidado para não pisar em alguma tábua podre do píer e cair no mar. Tinha passado grande parte da vida no Atlântico, e sabia quando as coisas estavam para mudar. Em geral, era antes de uma tempestade, ou quando a embarcação de alguém sofria avarias. Hoje, porém, tinha certeza de que seria quando o pescador lhe entregasse um pedaço de papel, uma série de números escritos à mão que o levaria ao mistério submerso. Nagle procurava o pescador ao longe. Não via ninguém. O vento carregado de maresia fustigava a cidadezinha litorânea de Brielle, inclinando os barcos ancorados no cais e borrifando o Atlântico nos olhos de Nagle. Quando a bruma se desfez, ele tornou a procurar. Dessa vez, viu o pescador se aproximando, com um papelzinho amassado nas mãos. O pescador parecia preocupado. Como Nagle, tinha vivido no oceano, e também sabia quando a vida de um homem estava para mudar.

Quando o outono se aproxima, de mansinho, todo o verniz de Bielle desaparece, e o que fica é a Brielle verdadeira, a dos habitantes do lugar. Esta cidadezinha no centro do litoral de Nova Jersey é onde os capitães de embarcações e os pescadores moram, onde os proprietários de lojas de conveniência deixam os estabelecimentos abertos para servir os vizinhos, onde crianças de quinta série podem consertar redes de pescar ostras. É onde os parasitas, os maria-vai-com-as-outras, os joão-ninguém e ex-famosos continuam acreditando no mar. Em Brielle, quando os fregueses vão embora, as rugas da cidade aparecem, abertas pelo limite sutil entre ganhar a vida na água e ir por água abaixo.
[...]

Fonte: Kurson, R. 2005. Mergulho na escuridão. SP, Landscape.

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