10 março 2012

Da descrição à indução

Bento José Ferreira Murteira

Na investigação cientifica a descrição tem considerável importância mas não esgota os propósitos daquela. Pode afirmar-se, na verdade, que normalmente quando um investigador analisa um conjunto de dados, necessariamente restritos, procura sobretudo alargar as sua conclusões a um conjunto mais vasto através da formulação de proposições gerais a que se dá, por vezes o nome de leis. Utilizando a terminologia atrás introduzida verifica-se que as mais profundas preocupações dos investigadores que utilizam o método estatístico consistem em tirar conclusões sobre o universo partindo dos factos observados na amostra. Sai-se, nesse caso, da esfera de aplicação da Estatística Descritiva para entrar no domínio da Estatística Indutiva.

Em termos muito gerais, o processo de inferência indutiva consiste no seguinte: conhecidos certos factos ou acontecimentos particulares, expressos por meio de proposições, imaginam-se proposições mais gerais que exprimam a existência de leis, isto é, de factos científicos. Relativamente a estas proposições levanta-se, contudo, uma dificuldade: não pode dizer-se, contrariamente ao que sucede com as proposições ‘deduzidas’, que são falsas ou verdadeiras. Tão pouco é de admitir um estado de completa ignorância, pois conhecem-se casos particulares. Existe, portanto, em relação a uma proposição ‘induzida’ uma posição intermédia entre,

falsa-verdadeira,

posição de incerteza que leva a dizer que a proposição é mais ou menos provável,

falsa-provável-verdadeira.

Os comentários que acabam de fazer-se servem para destacar que os atributos ‘falso’ e ‘verdadeiro’ são insuficientes quando o rigor abstracto das teorias matemáticas dá lugar à imprecisão inevitável dos acontecimentos empíricos, que dizendo respeito ao meio que o homem vive são indispensáveis no dia a dia.
[...]

Fonte: Murteira, B. J. F. 1979. Probabilidades e estatística, vol. 1. Lisboa, McGraw-Hill.

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