24 outubro 2011

O percurso de um pormenor


Hoje as folhas gritam, em galhos que vento varre,
Porém o nada do inverno atenua um pouco,
Ainda pleno de sombras frias, neve molhada.

As folhas gritam… Nos contemos, e ouvimos, apenas.
É um grito prático, que diz algo a outro alguém.
E embora nos julguemos parte do todo,

Há um conflito, uma resistência aqui,
E ser parte é um esforço que declina:
Sentimos a vida do que gera a vida tal qual é.

As folhas gritam. Não é grito de atenção divina,
Nem fumaça de herói que se apagou, nem grito humano.
É grito de folhas que não se transcendem,

Na ausência da fantasia, que só quer dizer
Que estão na descoberta última do ouvido, coisa em si,
Até que o grito, enfim, não diz nada a ninguém.

Fonte: Stevens, W. 1987. Poemas. SP, Companhia das Letras. Poema publicado em livro em 1957.

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