04 outubro 2011

Natureza humana e cultura

Kenneth Bock

Um desacordo básico entre biólogos e humanistas decorre de uma incompreensão dos conceitos de sociedade e cultura humanas. O resultado é que os biólogos falam de uma sociedade de corais, castores ou babuínos como se fosse um tipo de sociedade humana e todas pudessem, portanto, ser consideradas como assunto adequado de uma ciência social geral. Essa concepção errônea é depois harmonizada pelo pressuposto de que as sociedades não-humanas (e, até certo ponto, as sociedades humanas caçadoras-coletoras) exibem da maneira mais clara as derradeiras origens biológicas de toda sociedade, e pela conclusão de que a ciência social, como ramo da biologia, deve por essa razão concentrar-se nessas formas elementares de vida social.

Os teóricos sociais muito fizeram para fomentar essa perspectiva. Vincularam seres humanos a outros animais séculos antes de as ciências biológicas atingirem sua forma moderna, e sacaram analogias entre as sociedades humanas e animais antes que os biólogos levassem a sério a comparação. O arraigado emprego de conceitos orgânicos de todos os tipos nas ciências humanas preparou de modo imperioso o terreno no pensamento em geral para a idéia de que os fatos sociais humanos são na realidade fatos biológicos. Sem dúvida, alguns biólogos encontram apoio para essa proposição quando observam que muitos dos conceitos básicos da ciência social repousam em termos biológicos, embora tais conceitos tenham tido origem na teoria social e fossem tomados de empréstimo pela biologia.
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Fonte: Bock, K. 1982. Natureza humana e história. RJ, Zahar.

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