17 julho 2011

Agressão ou medo desesperado?

Nikolaas Tinbergen

Um etologista animal só pode especular, e eu vou sair do meu campo de competência, naturalmente. Tenho algumas idéias a esse respeito. Acho que nós ainda arrastamos conosco uma parte da nossa antiga programação genética. Penso que, à medida que comunidades humanas cresceram e os estados-nações tornaram-se mais nitidamente definidos, foi mais fácil considerar um homem membro de outra nação não como um simples companheiro da mesma espécie, e sim como um inimigo, no sentido mais amplo da palavra. Na verdade a guerra tem o caráter de defesa desesperada, e os demagogos que querem preparar as nações para a guerra convencem o povo de que este está sendo ameaçado por alguém. Numa defesa desesperada, por parte do animal contra qualquer um, seja uma ameaça de destruição ou um companheiro da mesma espécie – não há inibições. Agora, existem sistemas funcionais muito diferentes, tanto no animal como no homem, nos quais a violência é usada. Temos a interação hostil entre os homens, mas temos também a defesa contra destruidores. Temos a defesa contra os parasitas. Eu deduzo, daquilo que conheço sobre a preparação dos soldados para a guerra, que o homem é capaz de fundir todas essas diferentes motivações de modo que a motivação global com que ele enfrenta o inimigo, combinada às suas habilidades organizacionais, torna mais fácil sair em campo para matar os seus semelhantes. No indivíduo que luta, o ato de guerrear, na maioria das vezes, não é realmente motivado pela agressão, mas por um medo desesperado.

Fonte: Evans, R. I. 1979 [1976]. Construtores da psicologia. SP, Summus & Edusp.

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