22 junho 2011

Finados

Silveira Neto

Tudo acabado, mortos! Nem persiste
A carne antiga rubra de desejos.
Tudo em caveiras – últimos sobejos –
Frias e torvas no seu riso triste.

E sobre vós, a rir, amantes vejo-os
Calcarem essa terra que os resiste,
De olhares quentes onde a vida existe
Na tentação satânica dos beijos.

Mágoa febril nas tumbas se debruça
Dos séculos de amor que estão chorando...
Porém mais alto minha dor soluça:

É mais sombrio e maior dor comporta
Ter, como eu tenho, o corpo carregado
Na cova da existência uma alma morta.

Fonte: Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 5. SP, Cultrix & Edusp. Poema publicado em livro em 1900.

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