08 maio 2011

Brincando de Deus

June Goodfield

6.
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Desde 1971 um jovem pesquisador de câncer, Robert [Elliot] Pollack, já havia expressado particularmente ao Dr. Paul Berg a sua preocupação a respeito do DNA recombinante, mas a parte pública da história começa realmente em 1973. Em janeiro desse ano foi realizada uma reunião de um pequeno grupo de cientistas no Massachusetts Institute of Technology (MIT), reunião essa que é agora chamada pelos cientistas de Asimolar I. Segundo as palavras de Berg, nessa ocasião ficou reconhecido “quão pouco nós realmente sabemos”. Medidas mais concretas começaram a ser tomadas mais tarde, nesse mesmo ano, conforme detalhes fornecidos a mim pela Dra. Maxine Singer, chefe do Departamento de Ácido Nucléico e Enzimas, do Laboratório de Bioquímica do Instituto Nacional do Câncer, e uma das principais organizadoras da Conferência de Asilomar. Todos os anos é realizada uma convenção, conhecida pelo nome de Gordon Conference. Maxine Singer foi um dos presidentes na reunião de 1973, durante a qual foram descritas pela primeira vez as experiências de recombinação. Foi um momento muito dramático. As pessoas perceberam logo que maravilhoso instrumento seria esse novo processo, e ouviam tudo, fascinadas. “Meu Deus”, comentou uma delas, “a gente vai poder combinar qualquer coisa que quiser”. Para alguns as perspectivas eram fantásticas, mas outros não tardaram a mostrar sua preocupação. Os problemas éticos e morais criados pela decisão de se introduzirem qualidades desejáveis em organismos complexos, ou de se realizarem experimentos que poderiam ameaçar a segurança de outros, tornaram-se imediatamente aparentes para muitos cientistas; e naqueles tempos de grande militância social não poderiam ser ignorados.

Quando a conferência chegou ao fim, várias pessoas tinham procurado Maxine Singer e o outro presidente, Dieter Soll, da Universidade de Yale, a fim de expressarem suas objeções, tendo ficado decidido, após alguma discussão, que na manhã da última sessão seriam reservados quinze minutos para comentários. Ao mesmo tempo, foram incitados a discutir o assunto à noite, na ‘hora do bar’. No dia seguinte, ao se darem conta de que o tempo era curto demais, os participantes da convenção decidiram por votação – com poucas vozes discordantes – que seria enviada uma carta à Academia Nacional de Ciências chamando atenção para o fato de ter sido levantada uma questão que devia ser estudada.

Houve um desentendimento um pouco mais sério, entretanto, com a sugestão seguinte, que era de ‘ir ao público’ e enviar a carta para a revista Science, também. Nessa fase – e na verdade em qualquer outra – muitos dos cientistas já estavam em guarda contra o envolvimento público. Para eles, ‘ir a público’ era – e ainda é – um convite a manifestações hostis à Ciência; na sua opinião, há algumas coisas que devem ser feitas em silêncio. Atendendo, porém, à vontade da maioria, a carta foi publicada em Science, na edição de 21 de [setembro] de 1973.
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Fonte: Goodfield, J. 1981. Brincando de Deus. BH & SP, Itatiaia & Edusp.

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