02 janeiro 2010

E o poeta falou

Raul de Leoni

Afinal, tudo que há de mais nobre e mais puro
Neste mundo de sombras e aparências
Fui eu quem revelou ou concebeu...

Fui a primeira luz neste planeta obscuro!
Fui a suprema voz de todas as consciências!
Fui o mais alto intérprete de Deus!

Dei alma à Natureza indiferente,
Inteligência às coisas, sentimentos
Às forças cegas e automáticas do Cosmos!...

Acompanhei e dirigi os povos
Na sua eterna migração para o Poente;
Levantei os primeiros monumentos
E os primeiros impérios milenários;
Teci as grandes lendas tutelares,
Despertei na memória das criaturas
A sua antiga tradição divina,
Criando as religiões, as fábulas, os mitos
Para iludir a dor universal;
Abri os horizontes infinitos;
Bebi o néctar das primeiras raças;
Plasmei os altos símbolos humanos.
Sutilizei o instinto e imaginei o amor;
Fui a força ideal das civilizações!
O gênio transfigurador da História!
O espírito anônimo dos séculos!
E, harmonioso, profético, profundo,
Passei humanizando as coisas pelo mundo,
Para divinizar os homens sobre a Terra!

Fonte: Leoni, R. 1998. Luz mediterrânea. BH, Garnier. Poema publicado em livro em 1922.

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