16 dezembro 2009

Mensagens

Fernando Pinto do Amaral

Invisíveis regressam as palavras
na penumbra que desce e que me abraça
quase em silêncio. As ruas da cidade
revelam cada rosto do passado,

cada perfil ou cada olhar – sorrisos
que setembro segreda e vou sentindo
como se fossem teus, como se ainda
por milagre viesses ter comigo

a mais um bar deserto, a mais um sonho
filho da meia-noite, nado-morto
talvez como este amor. O frio do outono
vai diluindo as margens do meu corpo

numa estranha neblina que submerge
a casa onde viveste, agora imersa
no mar das minhas lágrimas, eternas
como esse teu jardim – ó atmosfera

envolta em doces mágoas, entre os muros
de séculos e séculos! Às escuras
refluem as palavras, as nocturnas
mensagens do passado ou do futuro.

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema publicado em livro em 1993.

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