05 outubro 2009

O grande, o pequeno e a mente humana

Roger Penrose

3.
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Que é consciência? Bem, não sei como defini-la. Acho que esse não é o momento de tentar definir consciência, uma vez que não sabemos o que ela seja. Creio que seja um conceito fisicamente acessível; no entanto, defini-la seria provavelmente definir a coisa errada. No entanto, vou defini-la, em certa medida. Acho que existem pelo menos dois diferentes aspectos da consciência. Por um lado, existem manifestações passivas de consciência, que implicam receptividade [awareness]. Uso essa categoria para incluir coisas como percepção de cor, de harmônicos, o uso da memória, e assim por diante. De outro modo, existem suas manifestações ativas, que implicam conceitos como livre-arbítrio e realização de ações sob nosso livre-arbítrio. O uso desses termos reflete diferentes aspectos de nossa consciência.

Vou concentrar-me aqui principalmente em outra coisa que envolve a consciência de maneira essencial. É diferente tanto do aspecto passivo quanto do aspecto ativo da consciência, e talvez seja algo intermediário. Refiro-me ao uso do termo entendimento, ou talvez intuição [insight], que muitas vezes é uma palavra melhor. Também não vou definir esses termos – não sei o que querem dizer. Existem outras duas palavras que não entendo – receptividade e inteligência. Bem, por que estou falando sobre coisas que não sei o que significam realmente? Provavelmente porque sou um matemático e os matemáticos não se preocupam muito com esse tipo de coisa. Não necessitam de definições precisas das coisas de que estão falando, contanto que possam falar algo acerca das conexões entre elas. O primeiro ponto-chave aqui é que me parece que a inteligência seja algo que requer entendimento. Usar o termo inteligência num contexto em que negamos que qualquer entendimento esteja presente me parece insensato. Da mesma forma, entendimento sem nenhuma receptividade também é um pouco absurdo. Esse é o segundo ponto-chave. Assim, isso significa que a inteligência requer a receptividade. Embora não esteja definindo nenhum desses termos, acho que é razoável insistir nessas relações entre eles.
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Fonte: Penrose, R. 1998. O grande, o pequeno e a mente humana. SP, Editora da Unesp.

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