14 março 2009

Apelo

Pedro Homem de Mello

Quem quer que sejas, vem a mim apenas
De noite, quando as rosas adormecem!

Vem quando a treva alonga as mãos morenas
E quando as aves de voar se esquecem.

Vem a mim quando, até nos pesadelos,
O amor tenha a beleza da mentira.

Vem quando o vento acorda em meus cabelos,
Como em folhagem que, ávida, respira...

Vem como a sombra, quando a estrada é nua,
Num risco de asa, vem, serenamente!

Como as estrelas, quando não há Lua
Ou como os peixes, quando não há gente...

Fonte: Silva, A. C. & Bueno, A., orgs. 1999. Antologia da poesia portuguesa contemporânea. RJ, Lacerda Editores. Poema originalmente publicado em 1952.

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