21 setembro 2008

Canção do Respondente

Walt Whitman

1.
Agora na lista de minha romanza matinal, narro os sinais do Respondente,
Às cidades e fazendas aceno, quando as vejo na amplitude da luz solar perante mim.

Um jovem vem a mim trazendo uma mensagem de seu irmão,
Como poderá o jovem conhecer as condições e o tempo de seu irmão?
Diga-lhe que me envie os sinais.

E eu paro diante do jovem face e face e pego a sua mão direita na minha mão esquerda e sua mão esquerda na minha mão direita,
E respondo para o seu irmão e para os homens, e respondo para aquele que responde por todos, e envio estes sinais.

A ele que todos aguardam, a ele a quem todos cedem, sua palavra é decisiva e final,
A ele a quem eles aceitam, nele se banharam, nele se percebem em meio à luz,
A ele que é submergido por eles e que o submerge.

Mulheres maravilhosas, as nações mais justas, as leis, as paisagens, o povo, os animais,
A terra profunda e seus atributos e o oceano inquieto (assim eu narro a minha romanza matinal.)
Todos os prazeres e as propriedades e dinheiro, e tudo aquilo que o dinheiro comprará,
Nas melhores fazendas, são outros os que labutam e plantam e é ele que, inevitavelmente, colhe,
Nas cidades mais nobres e mais caras, são outros os que preparam o terreno e constroem e é ele quem lá reside,
Nada é por alguém que não seja por ele, próximos e distantes os navios em alto mar são para ele,
As perpétuas demonstrações e as marchas em terra são para ele, se são de fato para alguém.

Ele acrescenta algo na atitude deles,
Ele tira o hoje de si mesmo com plasticidade e amor,
Ele estabelece seus próprios tempos, reminiscências, parentes, e irmãos e irmãs, associações, empregos, políticos, de modo que os demais nunca o envergonham mais tarde, nem ele julga que os comanda.

Ele é o Respondente,
Tudo o que pode ser respondido ele reponde, e o que não pode ser respondido ele mostra como não pode ser respondido.

Um homem é um chamado e um desafio,
(É em vão que se esquiva – ouves a chacota e o riso? Ouves os ecos irônicos?)

Livros, amigos, filósofos, padres, ação, prazer, orgulhos, palpitações altas e baixas na busca de dar satisfação,
Ele indica, a satisfação e indica a eles também aquele ritmo de palpitações.

Qualquer que seja o sexo, qualquer que seja a estação ou o lugar, ele pode continuar, renovado e gentil, e seguro de dia e à noite,
Ele possui a senha dos corações, para ele a resposta das mãos que se intrometem a girar a maçaneta.

Seu acolhimento é universal, o fluxo da beleza não é mais bem-vindo ou universal do que ele é,
A pessoa a quem ele favorece durante o dia ou com quem ele dorme à noite é abençoada.

Toda existência tem a sua linguagem, tudo tem um idioma e uma língua,
Ele inclui todas as línguas na sua e entrega aos homens, e qualquer homem traduz, e qualquer homem igualmente se traduz,
Uma parte não se contrapõe à outra, ele é o elo entre ambas, ele pode compreender de que modo elas se unem.

Ela fala sem diferenciar-se e de modo semelhante Como estás amigo?, ao Presidente em sua recepção,
E diz Adeus, meu irmão, ao bóia-fria que capina no campo de açúcar,
E ambos o compreendem e sabem que seu discurso está correto.

Ele se move com perfeita agilidade nos corredores do Capitólio,
Anda entre os congressistas, e um deputado diz ao outro, Ali vai um de nossos novos pares.

Então os mecânicos tomam-no por um mecânico,
E os soldados supõem que ele seja um soldado, e os marinheiros acreditam que ele singrou os mares,
E os escritores tomam-no por um escritor, e os artistas por um artista,
E os operários percebem que ele poderia trabalhar com eles e amá-los,
Não importa qual seja a profissão, ele é potencialmente adequado a ela ou nela já atuou,
Não importa de que nação falemos, ele há de encontrar ali os seus irmãos e suas irmãs.
Os ingleses acreditam que ele vem para a colônia Britânica,
Aos judeus ele aparenta ser um judeu, um russo para um russo, costumeiro e próximo, saído do nada.

Todos para os quais ele olha na cafeteria dos viajantes atribuem a ele a sua própria nacionalidade,
Os italianos e os franceses têm certeza, o alemão tem certeza, o espanhol tem certeza, o cidadão cubano tem certeza que ele é seu concidadão,
O engenheiro, o taifeiro dos grandes lagos, ou no Mississipi ou em St. Lawrence ou em Sacramento, ou ao som do Hudson ou do Paumanok, todos o reconhecem como igual.

Os cavalheiros de sangue perfeito reconhecem o seu sangue perfeito,
Aquele que insulta, a prostituta, a pessoa com raiva, o pedinte, se vêem projetados nele e ele estranhamente se transforma neles,
Eles não são piores, eles mal conhecem a grandeza que existe dentro de si.

2.
As indicações e a contagem das horas,
O que tem perfeita sanidade se faz mestre entre os filósofos,
O tempo, sempre sem brechas, se apresenta em fragmentos,
O que sempre indica o poeta são as multidões de companhias agradáveis dos cantores e suas palavras,
As palavras dos cantores são as horas e os minutos da luz ou da escuridão, mas as palavras do autor de poemas são a própria luz e a escuridão,
O autor de poemas estabelece a justiça, a realidade, a imortalidade,
Sua luz interior e seu poder envolve as coisas e a raça humana,
Ele é a glória e o extrato longínquo das coisas e da raça humana.

Os cantores não criam, apenas os Poetas criam,
Os cantores são bem-vindos, compreendidos, aparecem com bastante freqüência, mas são raros os dias ou as oportunidades de nascimento dos autores de poemas, os Respondentes,
(Nem todo o século, nem mesmo o intervalo de cada cinco séculos contém esse dia, com todos os seus nomes.)

Os cantores das horas sucessivas dos séculos podem ter nomes ostensivos, mas o nome de cada um deles é de um dos cantores,
O nome de cada um é: olho cantor, ouvido cantor, cabeça cantora, doce cantor, cantor da noite, cantor de salão, cantor de amor, cantor do destino ou de algo mais.

Todo esse tempo e em todos os tempos, espere pelas palavras dos poemas verdadeiros,
As palavras dos poemas verdadeiros não são aquelas que simplesmente agradam,
Os verdadeiros poetas não são os seguidores da beleza, mas os augustos mestres da beleza;
A grandeza dos filhos é a exsudação da grandeza das mães e dos pais,
As palavras dos poemas verdadeiros são a coroa e o aplauso final da ciência.

Instinto divino, amplitude da visão, a lei da razão, saúde, rudeza do corpo, capacidade de se retirar,
Alegria, pele morena, doçura do ar, essas são algumas das palavras dos poemas.

Os marinheiros e os viajantes subjazem aos autores de poemas, os Respondentes,
O construtor, o geômetra, o químico, o anatomista, o frenologista, o artista, todos esses subjazem ao autor de poemas, o Respondente.

As palavras dos verdadeiros poemas dão-te mais do que poemas,
Elas são a matéria-prima para que possas fazer tu mesmo poemas, religiões, política, guerra, paz, comportamento, história, ensaios, vida diária e tudo o mais,
Elas põem em equilíbrio as categorias, as cores, as raças, os credos e os sexos,
Elas não procuram a beleza, elas são procuradas,
Para sempre as tocando, ou próxima delas, segue a beleza, cheia de desejos, ansiosa, doente de amor.

Elas preparam para a morte e, contudo, não são o fim, ao contrário, a partida,
Elas não conduzem ninguém ao seu término ou para a sua satisfação e contentamento,
Aqueles que são conduzidos por elas são conduzidos para o espaço, de modo que assistam ao nascimento das estrelas, para que aprendam os seus significados,
Para lançá-los com fé absoluta, parar arrebatar os anéis intermináveis e nunca mais se aquietarem.

Fonte: Whitman, W. 2006. Folhas de relva. SP, Martin Claret. Poema originalmente publicado em 1855 (Parte 1) e 1860 (Parte 2).

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Porquê esse poema trata da guerra, poderia me explicar isso melhor?
Grato

12/12/08 19:00  

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