18 agosto 2008

Fim-de-século

Armando Freitas Filho

Heroína. Não conheci sua guerra
as lendas e os hinos frios
levados de boca em boca
na velocidade funil das ruas.
Não provei o doce-amargo
de sua conquista e posse
da delícia
de afrouxar todos os laços
logo após a hora H do encontro
e ouvir sem armas
as árias estáticas e virtuais
de suas vitórias e aporias imóveis.
Nem vi sua bandeira pintada
no céu sem vento
podendo, chegada a paz
perder as cores e morrer sem medo
rasgada como uma rosa clássica
que se declina em latim
pétala a pétala.
Penso então no pensamento parado
de suas estátuas
que contemplam e completam
com a poesia do intervalo
as próprias ruínas abandonadas
num eterno domingo.
E apenas escrevo seu nome e atuação
neste livro de ocorrências, heroína.

Fonte: Moriconi, I. 2001. Os cem melhores poemas brasileiros do século. RJ, Objetiva. Poema originalmente publicado em 1988.

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