22 julho 2008

Vertigem

Henriqueta Lisboa

A roda gira
o mundo gira
gira a cabeça
mais que o girassol.
Em derredor de algo ou de alguém
que talvez gire em volta de outrem
ou de outra cousa mariposa
sobre si mesma.

Nem sabe a espiga porque giram
as asas ríspidas do moinho.
Hoje é o esteio que se abate
de chofre contra o duro solo
enquanto o grão de areia sobe
em vertical pela argamassa.
O oceano cala nos pélagos
e joga as ondas em vaivém.
Pela vesânia a mesa farta
pela vindícia a mesa parca
aos impulsos do pêndulo.
Essa girândola que pende
para a direita ou para a esquerda
não edifica em centro.
Daqui de lá dos quatro cantos
das montanhas ao vale
são reflexos que refractam
não os deuses mas os mitos.
É o provisório o aleatório
o que ainda pouco se diluíra
na miragem dos plainos.
Para voltar com novo embalo
ao velho torno da aflição.

Fonte: Lisboa, H. 2001. Melhores poemas. SP, Global. Poema originalmente publicado em 1973.

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