03 março 2008

O mistério da consciência

John R. Searle

Até algum tempo atrás, os cientistas relutavam em se dedicar ao problema da consciência. Atualmente isso mudou e uma série de livros sobre o assunto têm sido publicados por biólogos, matemáticos, físicos, bem como filósofos. Dentre os cientistas que vou abordar, Francis Crick procura fornecer, em seu livro The astonishing hypothesis [...], a análise mais simples e direta do que conhecemos a respeito do funcionamento do cérebro. [...]

Crick toma a percepção visual como seu ponto de apoio para tentar desvendar o problema da consciência. Creio ser esta uma boa escolha apenas se levarmos em conta que muitas pesquisas sobre a anatomia e a fisiologia da visão já foram realizadas nas ciências do cérebro. No entanto, um problema relacionado a tal escolha encontra-se no fato de que o funcionamento do sistema visual é extremamente complicado. [...]

Não sabemos realmente como tudo isso funciona em detalhe, mas aqui está um esquema geral [...]: ondas de luz refletidas pelos objetos incidem sobre as células fotorreceptoras na retina do globo ocular. Estas células são os conhecidos bastonetes e cones, que formam a primeira das cinco camadas das células da retina, através das quais o sinal passa. As outras são denominadas células horizontais, bipolares, amácrinas e ganglionares. As células ganglionares, de uma certa forma, fluem em direção ao nervo óptico e o sinal continua passando nele pelo quiasma óptico até uma porção no meio do cérebro chamada corpo geniculado lateral (CGL). O CGL funciona como uma espécie de estação de retransmissão, enviando os sinais ao córtex visual que se encontra na parte posterior do crânio. Nós pensávamos, quando me interessei inicialmente por essas questões, que haviam três porções no córtex visual, zonas 17, 18 e 19, assim classificadas por K. Brodmann nos primórdios [do século 20], quando desenhou seu famoso mapa do cérebro. Hoje em dia, consideramos tal noção muito simplista. Já contamos atualmente com até sete áreas visuais, denominadas V1, V2 etc., e continuamos contando. De qualquer forma, o sinal atravessa as várias áreas visuais e há uma boa quantidade de [retroação] para o CGL. No final, todo o processo causa uma experiência visual consciente, mas como exatamente isso acontece é o que estamos tentando desvendar.

Fonte: Searle, J. R. 1998. O mistério da consciência. RJ, Paz e Terra. O autor foi mencionado antes aqui.

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