06 janeiro 2008

Robinson Crusoe

Daniel Defoe

1.
Nasci no ano de 1632, na cidade de York, filho de boa família estrangeira, pois que meu pai era natural de Bremen e se fixara primeiramente em Hull. Aí conseguira boa fortuna no comércio e, depois de deixar os negócios, retirara-se para York, berço natal de minha mãe, cujo parentela, os Robinson, era uma distinta família local, razão pela qual me chamara de Robinson Kreutznaer. Entretanto, devido à habitual corrução das palavras na Inglaterra, somos agora chamados, e nós mesmos nos chamamos, Crusoe, escrevendo assim nosso nome. E assim também sempre me chamaram meus companheiros.

Tinha dois irmãos mais velhos, um dos quais era tenente-coronel de um regimento inglês de infantaria de Flandres, outrora comandado pelo famoso coronel Lockhart. Morreu em combate com os espanhóis, perto de Dunquerque. Nunca soube o que foi feito de meu segundo irmão, do mesmo modo que meus pais jamais souberam o que foi feito de mim.

Sendo eu o terceiro filho, e não tendo aprendido qualquer ofício, cedo começou meu cérebro a povoar-se de sonhos. Meu pai, que era muito velho, deu-me boa instrução, tanto quanto o permitiam dar a educação caseira e a de uma escola pública local. Queria que eu estudasse direito, mas só me satisfazia a idéia de dedicar-me à vida ao mar. Tão obstinada se manteve essa minha vocação contra a vontade e, mesmo, as ordens de meus pai, súplicas e conselhos de minha mãe e de outros amigos, que se diria haver algo de fatal nessa tendência a conduzir-me diretamente à vida de misérias que me esperava.
[...]

Fonte: Defoe, D. 2005 [1719]. Robinson Crusoe. SP, Martin Claret.

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