10 dezembro 2007

Quem culpamos pelo que somos?

Jack Cohen

Observe uma mosca. Não, não basta pensar nela. Encontre uma mosca de verdade e examine-a. Veja suas perninhas correrem num ritmo perfeito, sua pequena cabeça girar, observando os acontecimentos. Observe-a decolar: num momento ela está parada, e a seguir está no ar, zunindo pelos arredores sem trombar em nada. Se puder, assista à sua aterrissagem. É a parte mais impressionante: ela acelera na direção de uma parede, se inclina, freia e... Lá está ela na superfície, totalmente serena, limpando sua tromba com as pernas dianteiras. De onde vem toda essa maquinaria de uma precisão tão bela?

Como é que essa mosca, esse indivíduo, surgiu? Veio do ovo de uma mosca, você diz. Mais ou menos. Veio de uma larva, e a larva saiu de um ovo. Estamos tão acostumados com coisas complicadas saindo de ovos, que isso nos parece uma explicação. Pintinhos fofos saem de ovos um tanto insípidos, botados (é claro) pela galinha. Basta dar um pouco de calor. Você veio de um ovo, também.

Ovos são estruturas biológicas pouco complicadas. Comparados ao que sai deles, são realmente muito simples. No ovo de uma galinha fértil, as dúzias de células sobre a gema, a partir das quais o pintinho se originará, não são nem um pouco especiais quando comparadas a um pedaço do cérebro do pintinho, ao seu rim ou mesmo à sua pele. Uma pena em crescimento é, pelos nossos critérios de medição, mais complexa do que as células a partir das quais os pintinhos inteiro se origina. Como isso é possível? Como pode a complexidade surgir da simplicidade? Haverá um “princípio organizador”, um “espírito da vida”?
[...]

Fonte: Brockman, J & Matson, K., orgs. 1997. As coisas são assim. SP, Companhia das Letras.

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