16 novembro 2007

Poema patético

Emílio Moura

Como a voz de um pequeno braço de mar perdido dentro de uma caverna,
Como um abafado soluço que irrompesse de súbito de um quarto fechado,
Ouço-te, agora, a voz, ó meu desejo, e instintivamente recuo até as origens de minha angústia,
Policiada e vencida, oh! afinal vencida por tantos e tantos séculos de resignação e humildade.
Em que hora remota, em que época já tão distanciada, foi que os ares vibraram pela última vez, diante de teu último grito de rebeldia?
Quantas vezes, ó meu desejo, tu me obrigaste a acender grandes fogueiras dentro da noite.
E esperar, cantando pela madrugada?
Mas, e hoje? Hoje a tua voz ressoa dentro de mim, como um cântico de órgão.
Como a voz de um pequeno braço de mar perdido dentro de uma caverna,
Como um abafado soluço que irrompesse, de súbito, de um quarto fechado.

Fonte: Moriconi, I. 2001. Os cem melhores poemas brasileiros do século. RJ, Objetiva. Poema originalmente publicado em 1936.

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