16 março 2007

Da poesia moderna

Wallace Stevens

O poema da mente no ato de encontrar
O que satisfaz. Nem sempre foi preciso
Procurar: o palco estava pronto; bastava repetir
O roteiro.

Então o teatro transformou-se
Em outra coisa. Seu passado era um souvenir.
Tem que estar vivo, aprender a falar do lugar.
Tem que encarar os homens desse tempo e buscar
As mulheres desse tempo. Tem que pensar na guerra
E achar o que satisfaz. Tem que construir
Um palco novo. Tem que subir nesse palco
E, como um ator insaciável, lentamente e
Com meditação, falar ao pé do ouvido,
No mais sutil ouvido da mente, repetir,
Exatamente, o que ele quer ouvir, ao som
Do qual uma platéia invisível escuta
Não a peça, e sim ela própria, expressa
Numa emoção como de duas pessoas, duas
Emoções virando uma só. O ator
É um metafísico no escuro, tangendo
Um instrumento, uma corda rija que gera
Sons que traspassam súbitas certezas, que contêm
A mente toda, aquém da qual descer não pode,
Além da qual não quer subir.

Tem que ser
A descoberta da satisfação, talvez
Um homem patinando, uma mulher que dança ou
Se penteia. O poema no ato da mente.

Fonte: Stevens, W. 1987. Poemas. SP, Companhia das Letras. Poema originalmente publicado em 1942.

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