13 dezembro 2006

O horror econômico

Viviane Forrester

(...)
Discursos e mais discursos anunciando “emprego” que não aparece, que não aparecerá. Locutores e ouvintes, candidatos e eleitores, políticos e públicos, todos eles sabem, todos eles unidos em torno dessas palavras mágicas para, com motivações diversas, esquecer e negar esse conhecimento.


Essa atitude, que afasta o desespero por meio de mentiras, de camuflagem, de fugas aberrantes, é desesperada e desesperante. Correr o risco da exatidão, o risco da constatação, mesmo que levem a certo desespero, é, pelo contrário, o único gesto que, lúcido quanto ao presente, preserva o futuro. Ele oferece de imediato a força de ainda falar, de pensar e de dizer. De tentar ser lúcido, de pelo menos viver na dignidade. Com “inteligência”. E não na vergonha e no medo, encolhido dentro de uma armadilha a partir da qual nada mais é permitido.


Ter medo do medo, medo do desespero, é abrir caminho para as chantagens que conhecemos muito bem.


Os discursos que passam por cima dos verdadeiros problemas ou que os falseiam, que os fazem desviar para outros, artificiais, os discursos que repetem sem fim as mesmas promessas insustentáveis, esses discursos são passadistas e remexem sempre as mesmas nostalgias que utilizam. (...)


Esses discursos fazem o jogo dos partidos populistas, autoritários, que saberão sempre mentir mais e melhor. Ousar refletir na exatidão, ousar dizer o que cada um teme, mas sofre por pretender ignorar e por ver ignorado, só isso poderia talvez criar ainda um pouco de confiança.

(...)

Em vez de esperar, em condições desastrosas, os resultados de promessas que não se concretizarão, em vez de esperar em vão, na miséria, o retorno do trabalho, a rápida, chegada do emprego, seria por acaso insensato tornar decente, viável por outros meios, e hoje, a vida daqueles que, na ausência, dentro em breve, radical do trabalho, ou melhor, do emprego, são considerados decaídos, excluídos, supérfluos? Ainda é tempo de incluir essas vidas, nossas vidas, no seu sentido próprio, no seu sentido verdadeiro: o sentido, muito simples, da vida, da sua dignidade, de seus direitos. Ainda há tempo de subtraí-los ao bel-prazer daqueles que os ridicularizam.


Seria insensato esperar, não um pouco de amor, tão vago, tão fácil de declarar, tão satisfeito de si, e que se autoriza a fazer uso de todos os castigos, mas a audácia de um sentimento áspero, ingrato, de um rigor intratável e que se recusa a qualquer exceção: o respeito?

Fonte: Forrester, V. 1997. O horror econômico. SP, Editora da Unesp.


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