12 novembro 2006

A Guerra do Golfo: lição para o Terceiro Mundo

Noam Chomsky & Heinz Dieterich

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HD [Dieterich] – Qual será a nova ordem que os Estados Unidos estabelecerão no Oriente Médio?

NC [Chomsky] – Bem, isso a gente pode ler no Wall Street Journal, que é onde as coisas são ditas com bastante clareza. Anteontem (26 de fevereiro [de 1991]), um dos príncipes da Arábia Saudita comprou 10% das ações do City Corp., um dos bancos norte-americanos que se encontra, como os demais, em sérios problemas econômicos. Ontem, o principal artigo da primeira página relata como as companhias norte-americanas e britânicas “invadem” a Arábia Saudita, empenhando-se em conseguir os contratos para a reconstruir. Aqueles que serviram aos interesses da elite kuwaiti, ou seja, Estados Unidos e Grã-Bretanha, obterão todos os contratos.


Para começar, o mínimo que eles esperam são contratos no valor de bilhões de dólares. Lá a gente encontra todas as multinacionais: Ford, General Motors, Chrysler, Bechtel, Aramco, as grandes empresas de construção, etc. Esperam pela grande bonança e tratam de escapar da recessão nos Estados Unidos mediante uma grande “injeção” de capital dos produtores de petróleo do Golfo Pérsico. Esta é a fonte de capital no mundo de que eles podem se valer.


Os britânicos, porém, estão muito irritados. Como sempre, os norte-americanos lhes aplicam duros golpes. Os britânicos nunca entenderam isso. Sempre pensam que são sócios (partners), mas os Estados Unidos os tratam simplesmente como capatazes. E agora estão aborrecidos porque os norte-americanos ficaram com todos os contratos. Os britânicos dizem: estivemos com vocês nos momentos mais difíceis, como nos explicam que todos os contratos fiquem em suas mãos? E a resposta é: vejam, este é um assunto para pesos pesados. Ponham-se no seu lugar. A França e outros países também estão cuidando de participar da mamata. Os países que não seguiram a linha dos Estados Unidos não terão benefícios.


No que diz respeito à nova ordem: a nova ordem é a velha ordem. Os Estados Unidos, ladeados por uma espécie de cachorrinho doméstico britânico, controlam os produtores de petróleo e obtêm os lucros deles. Governam por trás de uma fachada árabe, como dizia Lorde Curzon, onde as elites kuwaitis e sauditas vivem muito bem, investindo seu capital nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, enquanto o resto do mundo deve baixar a cabeça. Os Estados Unidos sabem muito bem que todo o mundo islâmico, assim como praticamente todos os povos do Terceiro Mundo, estão resolutamente contra. Mas esses povos não têm o menor peso. Os Estados Unidos não pretendem sequer tratá-los de uma forma política. Procurarão destruí-los pela força. Isso funcionou na América Central e eles sabem que funcionará no Oriente Médio, na África, etc. Simplesmente serão violentamente massacrados, controlados por meio de ditaduras, enquanto nós negociamos com os donos do dinheiro.
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Fonte: Chomsky, N. & Dieterich, H. 1998. Um olhar sobre a América Latina. RJ, Oficina do Autor.

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